sábado, 2 de outubro de 2010

A VIOLÊNCIA E AS LEIS DE PETER

“Entidades civis aliadas aos governos de sete Estados lançaram uma campanha nacional contra a violência. A campanha pretende sensibilizar as pessoas com pequenas sugestões para reduzir a violência. As crianças receberam 1 milhão de fitas brancas para trocar entre si e amarrar nos punhos. “A fitinha é um compromisso para a paz”, explicou o secretário executivo do Instituto Latino Americano para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente. Junto com a fita estão sendo distribuídos panfletos com orientação que vão de evitar provocações no trânsito e distribuir cestas básicas a famílias carentes até entregar armas guardadas em casa” (Correio Braziliense, 29.11.97).
Laurence J. Peter publicou um livro dedicado às leis da incompetência, onde tenta explicar, de forma interessante, por que grande parte das propostas para a solução de problemas existentes do nosso dia-a-dia, não funciona na prática. Em seu magistral livro, “Todo Mundo é Incompetente - Inclusive Você”, tenta explicar que boa parte dos erros, fracassos, equívocos, enganos, desencontros, confusões, são devidas a pessoas que, embora bem intencionadas, idealistas, motivadas a ajudar o próximo, sem interesse pecuniário, não têm a conhecimento e a compreensão para a tomada de medidas lógicas. Cumpre acentuar que essas pessoas , ou mesmo instituições, têm um evidente interesse em resolver os problemas O Dr. Peter descobriu a lei geral da incompetência, que pode ser física, emocional, mental e social. O desconhecimento, ou o conhecimento parcial ou distorcido, do problema leva, na maioria das vezes, a propostas de soluções inócuas, que não irão resolver nada. Infelizmente é o caso da maioria das medidas que vêm sendo preconizadas para combater a violência em nosso país. Medidas paliativas vêm sendo tomadas há anos, sem nenhum resultado palpável. Vocês acreditam que distribuir fitas brancas para as crianças vá resultar em alguma cousa? Que uma multidão de pessoas saindo às ruas para pregar o fim da violência, vá dar algum resultado? Que exigir que pessoas honestas, pais de família, entreguem suas armas, ficando a mercê dos bandidos é uma solução? Que os portadores de fuzis, escopetas, metralhadoras, que não sendo policiais, necessitam deles para o “trabalho diário”, irão entrega-las? Que, se a imensa maioria da população pobre é constituída de pessoas honestas, trabalhadoras, como a distribuição de cestas básicas irá diminuir a violência? E os raros marginais aí existentes ficarão sensibilizados em receber um presente tão insignificante dos mais favorecidos e , arrependidos, deixarão de assalta-los? Que a distribuição de panfletos contendo mensagens de paz, concórdia, respeito mútuo, vá modificar , de alguma maneira, o comportamento dos marginais? Ou será que a idéia é de dar as famílias a impressão de que se está fazendo algo? Se todos nós sabemos que a criança menor de seis anos, separada da mãe, maltratada, humilhada, negligenciada, desrespeitada em seus direitos estabelecidos em nossa Constituição, será o marginal de amanhã, realmente não se compreende a falta de medidas que evitem que ela , pobre ou rica, se torne um delinqüente. Como dizia Franco Vaz, em 1914, a respeito do aumento da violência, no Rio, “há uma opinião pública formada em torno da necessidade inadiável de um remédio, embora com o defeito de que essa opinião pública costuma ficar eternamente na expectativa, sem a coragem e a decisão precisas de tomar iniciativas fecundas”. E continua “se todos estão convencidos que o menor abandonado de hoje é o criminoso juvenil de amanhã, e que será dentro de maior ou menor prazo, o criminoso contumaz...se se sabe de tudo isso e os homens que têm a responsabilidade governamental e legislativa são precisamente aqueles que menos o desconhecem, - porque é que se persiste em descurar desse problema, porque é que se o relega para um plano secundário?”. Franco Vaz, você não conseguiu a resposta em 1914; eu não a consigo em 2002, quase 100 anos anos depois. Algumas medidas para “combater a violência” recordam-me uma anedota: o marido descobriu que vinha sendo traído pela sua bela esposa, no sofá da sala; mandou retirar o sofá e ficou felicíssimo por achar que tinha resolvido o problema. Vamos deixar de tirar o sofá da sala, e lutemos para prevenir e combater a violência com a seriedade necessária.

Nenhum comentário:

Postar um comentário